E aqui estamos no assunto da semana. Com bem menos impacto do que se
Steve Jobs estive na apresentação, a Apple apresentou ontem a sua visão
de futuro educacional, uma plataforma para livros educacionais a preços
acessíveis e um aplicativo que é uma ótima ferramenta para criar livros
digitais novos. Apresentou o kit completo.
Mas está tudo bem? Quais são as implicações nessa sugestão de modelo da Apple? Há mais erros ou acertos? Vamos dar uma olhada.
Novo formato
Já não bastasse a teimosia da Amazon em se manter afastada do ePub,
agora a Apple também o faz. Não que tenha se afastado demais – um artigo
no
TUAW
explica que o formato do aplicativo, o .ibooks, é uma espécie de ePub
disfarçado –, mas não é multiplataforma. Mesmo tendo um interior baseado
em ePub, não é possível colocar um arquivo desses em um eReader como o
Positivo Alfa, ou nook touch, por exemplo. Será necessário possuir um
iPad para visualizar o conteúdo.
Há vantagens, e entre elas está a facilidade em produzir conteúdo
interativo com a ferramenta – gratuita, veja só! – iBooks Author. Nem a
Amazon, nem o Smashwords e nem a Barnes & Noble (ou qualquer outra)
possuem uma ferramenta de publicação tão boa e tão simples quanto essa.
É bem mais fácil inserir pop ups, elementos 3D, vídeo e muito mais
com o programa. Isso tudo da forma mais simples possível, com interface
limpa e intuitiva como só a Apple poderia trazer. Entretanto, é um novo
formato a ser conhecido, aprendido e levado em conta na hora de publicar
seu conteúdo. Ao invés de facilitar, de unificar, as empresas parecem
querer mostrar uma esperteza, tentando convencer a todos de que o seu é o
formato certo e mais completo. Só o consumidor perde com isso.
Se a Apple quisesse jogar justo deveria ter feito do formato do novo
iBooks um padrão aberto. Claro, isso reduziria os royalties da Apple,
bem como acabaria por ceder o controle da mais alta importância da
experiência do usuário que Steve Jobs instalou como um valor fundamental
da empresa. Por isso parece impensável.
Única plataforma
Mais um problema. O aplicativo iBooks Author, que promete facilitar a
vida de autores, professores e outros criadores de conteúdo, roda
apenas no sistema MacOS X. Sendo assim, isso não facilita em nada a vida
de autores que possuem Windows ou Linux, pois estes teriam de mudar de
equipamento.
E continuando nessa linha, os livros produzidos no aplicativo só
poderão ser visualizados no iPad, iPod touch ou iPhone, e em mais nenhum
lugar. É possível exportar o livro para TXT ou PDF, mas não sem perder
praticamente 90% da beleza do livro. Se você tem um Xoom, um PlayBook,
um Galaxy Tab, esqueça os maravilhosos livros. A Apple está obrigando a
todos possuir um iPad para estudar, e é justamente isso que impede que
sua solução seja o futuro da educação. Quando tolhemos as escolhas dos
usuários, acabamos por não dar nenhuma opção.
Existem tablets mais baratas que o iPad, e isso facilitaria a vida de
alunos que não podem gastar muito, ou simplesmente de pessoas que
gostariam de modelos diferentes – nada mais normal. Restringir a uma só
plataforma, tanto o aplicativo como a visualização, não me parece uma
boa jogada.
Um lugar para vender, uma escolha
Mais um exemplo do que eu disse acima. Com o iBooks Author você monta
seu livro facilmente, e com um clique pode publicá-lo na… iBookstore.
Lógico, a Apple deve puxar a sardinha para o seu lado, mas porque temos
que nos ver diante de uma nova Amazon? Isso obriga o consumidor a ter um
Kindle caso ele queira ler ficção, um iPad caso precise de livros
educacionais, e sabe-se lá mais quantos aparelhos para ter acesso a todo
seu conteúdo.
Se você quer publicar um livro, TEM que escolher ou a Amazon, com
seus programas de empréstimos, ou a Apple ou qualquer outra. A briga
hoje em dia é pelo conteúdo, e essas empresas estão mostrando as armas
que têm para conseguir isso. Enquanto a Amazon joga um “Quer vender
bastante? Publique aqui!”, a Apple joga “Quer produzir livros lindos de
forma fácil? Publique aqui!”.
E assim ficamos presos e sem praticidade, pois precisamos produzir e
preparar o conteúdo diversas vezes para publicarmos em todos os lugares.
Direitos autorais
Com a facilidade de publicação, a Amazon já enfrenta sérios problemas
de plágio, e precisa de um software rodando 24 horas em busca de
conteúdo copiado. E eles aparecem aos montes. Com a publicação por um
clique e a facilidade de fazer livros, esse número deve ficar ainda
maior.
E como a Apple vai combater isso? Será que irá utilizar-se dos mesmos
métodos com que já classificava os livros anteriormente? Será que vai
proibir conteúdo erótico ou pornográfico como fazia antes? Se sim, cadê a
liberdade no processo?
Mais acesso, mais popularização
Apesar dos pesares, alguém tinha que fazer isso, jogar a questão dos
livros didáticos e interativos no holofote. E ninguém sabe fazer isso
melhor do que a Apple. Foi ela que, de certa forma, resolveu o problema
da música. E foi ela também que popularizou os apps para smartphones, e
simplesmente trouxe à luz o que deve ser um bom smartphone.
Com seu novo projeto, está sacudindo a cadeira de todos, sejam
editoras, autores, desenvolvedores e até alunos, que agora podem
conhecer quais as vantagens desse novo sistema. Talvez ninguém seja tão
popular quanto à Apple, mas é fato que de agora em diante deverão surgir
novas empresas, start-ups e outras com soluções para os didáticos.
O preço está justo, por enquanto. A Apple fica com 30% de cada venda
quando um livro é vendido através de seu ecossistema iTunes. Os autores
têm a capacidade de definir seus próprios preços, com um limite de até
US$14,99 e têm a opção de publicar livros gratuitos. Se você escreve um
livro pago, tem a opção de oferecer uma amostra, mas se o livro for
gratuito não há opção de amostra.
Confira um vídeo de mais de 7 minutos a respeito da nova plataforma iBooks:
Com informações do
FutureBook e
The Digital Reader.