Se você acha que livro digital é novidade, está enganado, pois ele já
chegou na fase adulta há muito tempo, e é um quarentão revigorado. Há
anos venho defendendo e difundindo as potencialidades do livro digital,
que pode democratizar o acesso ao livro e a leitura, principalmente por
causa de sua portabilidade.
Bom, essa história está longe de terminar,
mas tem um começo preciso. Em 1971, Michael Hart criou o Projeto
Gutenberg, a primeira biblioteca digital do mundo, desenvolvida para
viabilizar uma coleção de livros eletrônicos gratuitos a partir de
volumes físicos e com direitos autorais livres. O primeiro livro desta
biblioteca foi a declaração de independência dos Estados Unidos
(tornando-se o primeiro livro digital da história). Este projeto tem
agora 36 mil títulos.
Outros dois grandes acontecimentos da história do livro digital
aconteceram em 1991 e 1993, primeiro com a Companhia Voyager e seu
projeto “Livro Estendido”, como fotos e biografia dos autores em
CD-ROOMS, e com a Digital Book Inc, que produziu um disquete contendo 50
livros no formato DBF (Digital Book Format). Mas jogada de mestre teve
Jeff Bezos, que resolveu criar a primeira grande livraria online, em
1995.
No começo, ela vendia livros por email, e depois pelo site, e sua
inovação se restringia apenas no modo de comprar e distribuir livros.
Mas Bezos não se contentou com isso, e sua Amazon é hoje um conglomerado
global. A partir de 1998, várias empresas tentaram emplacar leitores de
livros digitais, como o Ebook Rocket, e SoftBook, e apareceram os
primeiros fornecedores de eBooks em Inglês, como eReader.com e
eReads.com. A Microsoft também tentou seu lugar ao sol, com o Microsoft
Reader, mas não decolou. Quem alçou voo mesmo foi Stephen King, que teve
o primeiro best-seller do mercado digital, “Montado na Bala”, com 400
mil downloads no lançamento (disponibilizado gratuitamente).
Em 2004, a Sony tentou entrar no mercado com seu leitor Libri,
precursor do Sony Reader, lançado em 2006, e ambos tiveram fracassos
retumbantes. Mas quem fez barulho mesmo foi a Amazon, que além de lançar
o Kindle em 2007, disponibilizou 90 mil títulos para compra: uniu
distribuição e tecnologia, justamente o que o mercado estava precisando.
O sucesso foi tão grande que eles não pararam, lançando o Kindle 2 em
2009 e o Kindle 3 em 2010 (eu uso este último, e recomendo). O Kindle
ajudou a popularizar a tinta eletrônica, que não cansa os olhos e imita o
papel. Pra variar, somente em 2009 o Brasil acordou, com a criação da
loja de livros digitais Gato Sabido, que acabou incorporada ao site
Submarino.
No ano passado, a Apple e a Google entraram na briga: a primeira
lançou a aplicação iBooks para iPad e Iphone, que permite que você
compre livros eletrônicos na loja online iBookstore, e a segunda, o
Google eBookstore, o maior catálogo do planeta, milhões de livros. Ambas
têm potencial para derrotar a Amazon na distribuição e venda de livros,
mas talvez não tenham fôlego ou vontade (a Amazon não é boba, acabou de
lançar o Kindle Fire, tablet que custa a metade de um iPad). O fato é
que a Amazon já vende mais livros digitais que impressos, uma tendência
mundial e ecologicamente correta. E você, quando vai entrar no mercado
do livro digital?
Artigo publicado originalmente no jornal A Notícia, por Carlos Schroeder, diretor executivo da Editora da Casa.
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